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The Division escorrega na sua própria ambição

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A Ubisoft tem um sério problema com superlativos. Toda vez que algum de seus jogos começa a se tornar grande demais, algo de errado acontece. Watch Dogs, Assassin’s Creed Unity e The Crew chegaram repletos de grandes promessas de revolução, de escalas colossais e diversos adjetivos que mostravam como esses títulos seriam gigantescos. Contudo, essa megalomania resultou apenas em decepção, frustração e muitas críticas ao estúdio. E isso se repetiu mais uma vez com The Division.

É claro que ainda é cedo para bater o martelo e dizer que o novo game da linha Tom Clancy vai seguir o mesmo caminho ingrato dos exemplos já citados, mas a Beta liberada pela Ubisoft trouxe de volta aquele velho gosto amargo de algo que foi vendido como um projeto grande demais, mas que não entrega nada além do feijão com arroz. Mesmo sendo apenas uma pequena parte de todo esse enorme mundo, não há como não se sentir enganado quanto a tudo o que foi mostrado.

E é difícil entender o próprio hype por trás de The Division. Anunciado na E3 de 2013, o game levou muita gente à loucura desde o seu primeiro trailer, mesmo sem trazer muitas informações de jogabilidade. A coisa foi ganhando proporções ainda mais colossais a cada novo vídeo e informação e nem mesmo os constantes atrasos — sempre um mau sinal em desenvolvimento de jogos — diminuíram as esperanças do público de ver algo novo, diferente e grandioso. No fim, parece que estamos diante do golpe que levamos quando Watch Dogs chegou ao mercado.

The Division

Que visual é esse?

As semelhanças entre Watch Dogs e The Division são enormes. Os dois conquistaram o público em meio a apresentações na E3 sem grandes informações, mas com propostas interessantes; ambos sofreram vários adiamentos no projeto e, acima de tudo, serviram para enlouquecer o jogador com seu visual e suas propostas diferentes. Eram promessas de revolução aliadas à uma qualidade gráfica que fazia jus à nova geração.

Mas, nos dois lançamentos, o que foi mostrado nos anúncios e trailers fica bem longe daquilo que o jogador viu de fato. Pelo menos na Beta — e provavelmente no jogo final, visto que falta pouco mais de um mês para o lançamento —, os gráficos de The Division estão bem aquém daquilo que nos foi prometido. As infinitas partículas, o cuidado com a neve e o mundo extremamente detalhado deram lugar a algo bem simples, coberto por no máximo uma névoa, e que não lembra em nada o que a Ubisoft apresentou há quase três anos.

O downgrade era um medo real e que já deixou muita gente alarmada. A gente viu essa mesma novela com Watch Dogs e é muito triste ver que o estúdio não aprendeu nada com as críticas ao mostrar algo que é impossível de ser feito.

The Division

É claro que o visual de The Division não está ruim, mas boa parte dos jogadores que estão empolgados com o game é por conta da grandiosidade que nos foi apresentada inicialmente. É impossível você mostrar algo incrível, entregar algo mediano e esperar que o público aceite isso numa boa. No fundo, mais uma vez, a Ubisoft se transforma no McDonalds dos games: faz uma apresentação muito bonita, mas o que vem dentro da caixa é algo bem diferente.

Nova Iorque sitiada

Mas a pergunta que realmente importa é se esse sanduíche dentro da caixa é bom mesmo ou apenas outro engodo. E a resposta vai depender do paladar do jogador.

Não há como negar que The Division tem suas boas ideias. O conceito por trás do game é realmente instigante, criando uma contaminação em toda Nova Iorque transmitida por meio do dinheiro em plena Black Friday. Com isso, quase como em um filme de zumbis, a sociedade se isola em zonas seguras enquanto o mundo lá fora está à beira do caos em um "salve-se quem puder". E é no meio desse inferno gelado que o jogador se encontra.

Logo no começo, seu personagem aparece como um dos membros da The Division, uma unidade que pretende cuidar da contaminação para fazer com que a cidade volte a ser habitável. Para isso, precisa liberar áreas importantes, ajudar médicos e pesquisadores e realizar uma série de outras pequenas tarefas para ajudar nessa tarefa de recolonização. Contudo, como em qualquer cenário em que tudo deu errado, grupos se reuniram para saquear e atacar qualquer pessoa que eles encontrarem.

The Division

Essa ideia é algo que realmente intriga, pois une um pouco do mundo pós-apocalíptico de The Last of Us com medos bem reais e plausíveis para nós. Porém, a Beta não consegue ir muito além disso. Quando chega na parte de jogabilidade, The Division cai no lugar comum e pouco consegue entregar de novo, sendo apenas mais um shooter como tantos outros.

E é isso que mais incomoda. Ele tem um conceito bom e um cenário que poderia ser muito bem explorado, mas que se acomoda em fazer simplesmente o básico e de maneira preguiçosa. Tudo se resume a avançar, se esconder atrás de um muro ou barreira e atirar até que não restem mais inimigos. Não há variedade no design dos combates e nem no estilo das missões, o que faz com que tudo fique bastante repetitivo.

Ao longo de toda a Beta, você vai encontrar apenas tarefas que pedem para que seu personagem vá até determinado ponto e enfrente algum grupo rebelde. Há uma ou outra pequena variação no objetivo final, mas tudo consiste em uma única lógica: murinho e tiro.

É claro que, como estamos falando de apenas um recorte do jogo, é possível que a versão final de The Division entregue algo bem diferente e com mais variedade. Contudo, a Beta acendeu um sinal de alerta para algo que já vimos acontecer em Watch Dogs: uma enorme sucessão de missões parecidas. Todos os desafios são tão parecidos que é fácil você simplesmente se desligar da trama que está sendo contada e apenas seguir em frente de um tiroteio para o outro. É quase como se você não saísse do lugar.

The Division

Isso é agravado pelo mundo morto. Tudo bem que a ideia é mostrar que Nova Iorque está abandonada depois da contaminação, mas há maneiras de criar esse estado de sítio sem fazer com que o cenário seja vazio, sem vida e sem graça. Você até encontra um ou outro NPC vagando pelo mapa, além dos próprios inimigos que estão saqueando algo ou protegendo uma área, mas, no geral, tudo é muito apagado.

Em compensação, a ideia da Ubisoft era fazer com que o jogo fosse uma mescla de RPG com tiro em terceira pessoa e, nesse ponto, ele acerta muito bem. Há todo um sistema de habilidades e de equipamentos bem estruturado que não deixa nada a desejar aos Final Fantasy da vida e que mostra que a ideia do game é fazer o jogador revirar a cidade em busca de itens mais raros e poderosos. É um pouco da lógica que vimos em Destiny, ainda que um pouco mais simplificado — mas igualmente instigante.

Bem-vindo à Dark Zone

E se a ideia é incentivar o jogador a ir atrás de armas e equipamentos melhores, nada mais lógico do que trazer uma forma de obter os melhores tesouros — mesmo que isso signifique se aventurar por áreas bem mais perigosas. E é aqui que temos a melhor parte de The Division: a Dark Zone.

The Division

Seguindo a lógica da trama, essas regiões são áreas fora dos limites de contenção de segurança e, por estarem em uma zona bem perigosa de contágio, está repleta de itens abandonados pelos nova-iorquinos. E, por isso, atrai a atenção de diferentes grupos que lutam para se armar e sobreviver em meio a todo esse caos.

Assim, enquanto toda a parte de exploração e campanha de The Division é centrada no combate a NPCs, a Dark Zone muda um pouco as regras e é totalmente focado no PvP. Seja ao lado de seus amigos ou de completos desconhecidos, é preciso formar grupos e partir rumo ao desconhecido para procurar novos itens e equipamentos para seu personagem.

É claro que boa parte daquela jogabilidade coordenada e organizada que os trailers nos mostraram pouco condizem com o que acontece de verdade, com um verdadeiro cada um por si em tiroteios bem frenéticos. O sistema de combate não muda nada, mas a dinâmica desses confrontos já é outra, pois temos pessoas do outro lado e eles vão aproveitar o design do cenário tão bem quanto você e deixar as coisas bem mais complicadas.

Segure a expectativa

Se você estava explodindo de ansiedade quanto a The Division, talvez esteja na hora de puxar um pouco o freio de mão e ir se adaptando à realidade. Ele não é um jogo ruim, mas fica bem abaixo daquilo que a Ubisoft vem mostrando até então. De novo: desconfie de todo o superlativo vindo da empresa, não entre no hype e aproveite o jogo.

The Division

Se você conseguir segurar um pouco a expectativa, é bem provável que você aprenda a gostar mais de The Division. Ele tem boas ideias, ainda que erre em vários pontos importantes. Não há como duvidar que a Dark Zone vai ser o grande atrativo e o que vai manter os jogadores presos naquele mundo. Ela é infinitamente mais divertida que o resto do jogo e as recompensas por sobreviver nela são bem melhores. Quase não há motivo para se prender à campanha.

É claro que estamos falando da Beta e de apenas um pequeno recorte do que é o jogo todo, mas faltando pouco mais de um mês para o seu lançamento, dificilmente vamos ter grandes mudanças. Desse modo, o jeito é aproveitar esse tempo hábil para rever sua empolgação e aceitar que The Division pode ser um bom jogo mediano.


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